Dólar recua com clima positivo nas relações comerciais entre Brasil, EUA e China
- Adilson Silva

- 27 de out.
- 3 min de leitura
Moeda americana perde força no mercado interno e externo
O dólar iniciou a semana em queda diante do real, refletindo um cenário de otimismo no campo das relações comerciais internacionais. As atenções do mercado se voltam para os recentes desdobramentos diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos, após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizado na Malásia no último domingo (26).
Além disso, o movimento de baixa acompanha a desvalorização global da moeda americana frente a diversas divisas de países emergentes, impulsionada pelo otimismo em torno da retomada do diálogo entre Estados Unidos e China, com nova rodada de negociações prevista para quinta-feira (30). A valorização do minério de ferro na bolsa de Dalian também reforça o bom humor dos investidores.

Mercado reage a perspectivas de novos acordos comerciais
De acordo com analistas, o encontro entre Lula e Trump reacendeu expectativas de avanços concretos em acordos bilaterais, especialmente nas áreas de exportação e tarifas comerciais. O ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e atual presidente em exercício, Geraldo Alckmin, afirmou que o diálogo foi “muito produtivo” e deverá se intensificar nas próximas semanas.
O próprio presidente Lula destacou que a conversa com Trump foi “surpreendentemente boa”, e ressaltou que qualquer aproximação com os Estados Unidos não implica afastamento da China, principal parceiro comercial do Brasil. “Não há condicionalidades. Queremos um acordo que preserve a liberdade de diálogo com todos os países”, afirmou.
O chanceler Mauro Vieira complementou dizendo que os Estados Unidos concordaram com um cronograma de negociações, que será iniciado imediatamente, com a expectativa de conclusão nas próximas semanas.
Trump sinaliza possível revisão de tarifas ao Brasil
Durante viagem ao Japão, o presidente norte-americano Donald Trump comentou o encontro com Lula e sinalizou abertura para discutir a revisão de tarifas impostas ao Brasil. “Tivemos uma excelente reunião. Vamos ver o que acontece. Eles gostariam de fechar um acordo. No momento, pagam cerca de 50% em tarifas, mas acredito que temos boas chances de avançar”, declarou a bordo do Air Force One.
Trump também demonstrou otimismo quanto às negociações com a China e confirmou que pretende visitar o país asiático no início do próximo ano. O gesto reforça a percepção do mercado de que pode haver uma fase de distensão comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Cenário interno favorece queda da moeda americana
No Brasil, a desvalorização do dólar também é sustentada por fatores domésticos. O Boletim Focus desta segunda-feira trouxe uma revisão para baixo nas projeções de inflação — a estimativa do IPCA em 12 meses caiu de 4,12% para 4,06%. Essa desaceleração reforça a percepção de que o Banco Central pode antecipar o início do ciclo de corte da taxa Selic já em janeiro, após a divulgação de um IPCA-15 abaixo das expectativas.
A tendência de queda nos juros de longo prazo, somada à perda de força dos rendimentos dos Treasuries americanos, contribui para aliviar a pressão sobre o câmbio e favorece a entrada de capital estrangeiro no país.
Atuação do Banco Central e volatilidade no mercado
Mesmo com o ambiente favorável, o Banco Central segue atuando para conter oscilações bruscas na taxa de câmbio. Nesta manhã, a instituição realiza um leilão combinado de swap reverso e venda de dólar à vista, com oferta de até US$ 1 bilhão. O objetivo é reduzir a pressão sobre o cupom cambial, em meio à alta pontual da demanda típica do fim de ano.
Especialistas alertam que a semana ainda deve apresentar volatilidade, principalmente por conta da disputa técnica pela taxa Ptax de outubro, que será definida na próxima sexta-feira.
Confiança do consumidor dá sinais de melhora
Outro fator que reforça o otimismo do mercado é o avanço da confiança do consumidor. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registrou alta de 1,0 ponto em outubro, atingindo 88,5 pontos na série com ajuste sazonal — o segundo avanço consecutivo. O resultado indica uma percepção mais positiva sobre o futuro da economia e o poder de compra das famílias.
Perspectivas
A combinação de otimismo diplomático, inflação sob controle e recuperação gradual da confiança do consumidor compõe um cenário favorável para o real no curto prazo. Caso as tratativas comerciais com os Estados Unidos e a China avancem, analistas acreditam que o câmbio pode manter tendência de valorização nas próximas semanas.
Entretanto, a definição das próximas políticas monetárias e fiscais, tanto no Brasil quanto no exterior, seguirá determinante para o comportamento da moeda americana até o fim do ano.







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