Troca de comando na Auditoria do SUS/BA e na Corregedoria provoca apreensão na Sesab

Mudanças inéditas geram debate sobre transparência e futuro da fiscalização na Saúde da Bahia

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) anunciou nesta terça-feira (16) alterações em dois setores estratégicos da pasta: a Auditoria do SUS/BA e a Corregedoria. Foram nomeados Diego Aires de Souza para chefiar a Auditoria e Daniela Sapucaia de Freitas para assumir a Corregedoria. Embora, à primeira vista, as mudanças possam parecer apenas administrativas, a escolha tem causado desconforto nos bastidores da secretaria.

Foto: Fernando Vivas/GOVBA

Isso porque, pela primeira vez em mais de duas décadas, a Auditoria do SUS/BA será liderada por alguém que não pertence à carreira de auditor. O fato marca uma quebra de tradição e gera questionamentos entre servidores e especialistas sobre os rumos da fiscalização no sistema estadual de saúde.

Histórico da Auditoria do SUS/BA

Criada em 1998, quando a Bahia realizou o primeiro concurso público do Brasil para a função, a Auditoria sempre foi considerada uma referência nacional. Desde então, apenas auditores concursados — profissionais das áreas de medicina, enfermagem, odontologia e contabilidade — ocuparam os principais cargos de direção. A prática foi mantida independentemente de qual partido estivesse no comando do governo estadual.

O órgão tem papel fundamental na análise de contratos, na verificação da execução de serviços e no acompanhamento de hospitais e unidades geridas por entidades conveniadas. Por esse motivo, a substituição por alguém de fora da carreira levantou temores de que o processo de fiscalização perca autonomia e efetividade.

Temores e bastidores

Servidores ouvidos de forma reservada afirmam que existe receio de enfraquecimento da Auditoria. Para eles, a mudança pode abrir caminho para futuras indicações políticas em funções que, até então, eram exclusivamente técnicas.

“Há um sentimento de insegurança, porque esse setor sempre funcionou como um instrumento de controle. Ele é importante para evitar falhas na gestão, muitas vezes não por má-fé, mas pela ausência de acompanhamento adequado”, comentou uma fonte sob condição de anonimato.

A decisão também chama atenção porque, em mais de 25 anos, nenhum titular da Sesab havia mexido de forma tão profunda na estrutura da Auditoria. O temor de retaliações faz com que poucos se manifestem publicamente, mas o mal-estar é perceptível nos corredores da secretaria.

Reação oficial da Sesab

A secretária de Saúde, Roberta Santana, defendeu as nomeações e afirmou que a mudança visa fortalecer os mecanismos de controle. “Colocar profissionais com experiência comprovada em áreas estratégicas é um passo importante para reforçar a ética, a transparência e a eficiência. Isso traz mais segurança na gestão dos recursos públicos e fortalece a credibilidade do SUS na Bahia”, declarou.

Segundo a Sesab, tanto Diego Aires quanto Daniela Sapucaia são servidores concursados, ainda que o novo chefe da Auditoria não seja da área da saúde. A pasta destaca que o objetivo é reforçar a integridade do sistema, mas as críticas persistem entre aqueles que acompanham de perto o dia a dia da fiscalização.

Desafios à frente

Para quem atua no setor, a principal preocupação é que a escolha de profissionais de fora da carreira crie um precedente que enfraqueça a autonomia dos órgãos responsáveis pela fiscalização e pela correição. “Espero que não se abra espaço para o afrouxamento das regras, porque a Auditoria é vital para proteger o SUS e a população”, avaliou outro servidor, também em anonimato.

O desfecho desse movimento ainda é incerto, mas o debate já expõe a tensão entre a necessidade de manter a tradição técnica e a intenção do governo de imprimir uma nova dinâmica na gestão da saúde pública estadual.