Petrobras e o desafio da transição energética: estudos apontam necessidade de mudanças profundas
- Adilson Silva
- 23 de set.
- 3 min de leitura
Nas últimas semanas, diferentes estudos trouxeram à tona uma discussão essencial para o futuro da Petrobras e, consequentemente, para a economia brasileira: o alinhamento entre a estratégia da estatal e os compromissos climáticos firmados pelo Brasil no Acordo de Paris. As análises indicam que, sem uma mudança significativa em seu modelo de negócios, a petroleira pode ficar distante das metas globais de descarbonização e correr riscos financeiros de longo prazo.

Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda mundial por petróleo tende a iniciar uma trajetória de queda a partir de 2030, impulsionada por políticas de redução das emissões de gases de efeito estufa e pelo avanço de fontes alternativas de energia. Isso representa um ponto de alerta para países que ainda concentram sua economia na exploração e exportação de combustíveis fósseis.
O papel da Petrobras diante das metas climáticas
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como Carlos Eduardo Young e Helder Queiroz Pinto, defendem que a Petrobras precisa redirecionar suas operações para atividades que ofereçam menor impacto ambiental. Entre as alternativas, destacam-se o combustível sustentável de aviação (SAF), o hidrogênio verde, o biogás e o biometano. Eles também ressaltam a importância de investimentos em tecnologias emergentes, como o sequestro e armazenamento de carbono, embora ainda em estágio inicial de desenvolvimento.
Para os especialistas, a transição deve ser planejada de forma gradual, sem comprometer a estabilidade financeira da companhia. Entretanto, alertam que insistir na dependência exclusiva do petróleo pode gerar um efeito negativo: o chamado “ativo encalhado”, quando infraestruturas e reservas perdem valor à medida que a demanda global por combustíveis fósseis cai.
A visão do Observatório do Clima
Organizações ligadas ao Observatório do Clima reforçam que a atual estratégia da Petrobras está desalinhada às metas nacionais de mitigação estabelecidas pelo Brasil. Na avaliação da entidade, investimentos em novas refinarias e em fronteiras de exploração, como as bacias da margem equatorial e da Foz do Amazonas, não fazem sentido econômico e ampliam os riscos de obsolescência.
O grupo defende que a estatal deve diversificar seu portfólio, reduzindo gradualmente a participação do petróleo e gás, e priorizando fontes renováveis. Isso significaria alinhar a empresa não apenas ao Acordo de Paris, mas também às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), compromissos que orientam a política climática brasileira.
O posicionamento da Petrobras
Em resposta, a Petrobras afirma que já tem avançado no caminho da transição energética. O plano estratégico 2025-2029 prevê cerca de US$ 16,3 bilhões em investimentos voltados para projetos de baixo carbono, além de uma meta de redução de 40% em suas emissões entre 2015 e 2024. A companhia também destaca que pretende aplicar US$ 5,7 bilhões em iniciativas de energias renováveis, como eólica, solar e hidrogênio.
Impactos sociais e geração de empregos
Outro aspecto ressaltado pelos estudos é a questão do emprego. Dados do IBGE mostram que, entre 2010 e 2021, o número de postos de trabalho ligados à extração de petróleo caiu cerca de 10%, mesmo com a produção quase dobrando no período. Isso demonstra que a expansão do setor não se traduz, necessariamente, em mais empregos.
Em simulações feitas pela UFRJ, os pesquisadores verificaram que cada milhão de dólares investido em biocombustíveis pode gerar quase três vezes mais postos de trabalho do que o mesmo valor aplicado no refino de petróleo. Esse dado reforça que a transição energética, além de essencial para o combate às mudanças climáticas, pode ser mais justa socialmente, promovendo melhor distribuição de renda e novas oportunidades de trabalho.
O dilema da dependência do petróleo
Os estudos alertam ainda para um problema estrutural: a forte dependência fiscal do Estado brasileiro em relação às receitas provenientes do petróleo. Royalties, impostos e participações governamentais representam uma fonte relevante para as finanças públicas, mas essa dependência é arriscada, já que os preços do barril são altamente voláteis e a atividade possui prazo limitado, por se tratar de recurso esgotável.
Um futuro em transição
A grande questão que se coloca é como a Petrobras irá se posicionar diante das transformações do mercado global. Permanecer centrada no petróleo pode trazer ganhos de curto prazo, mas aumenta a exposição ao risco de desvalorização e perda de competitividade. Por outro lado, investir de forma consistente em energias limpas abre espaço para a empresa liderar a transição energética na América Latina, tornando-se referência mundial em inovação e sustentabilidade.
O consenso entre os especialistas é claro: a transição não é uma escolha, mas uma necessidade. E o futuro da Petrobras dependerá da velocidade e da seriedade com que irá se adaptar ao novo cenário energético global.
Comentários