Ipea sugere nova tributação sobre grandes fortunas para custear reparações climáticas
- Adilson Silva

- há 12 minutos
- 2 min de leitura
sábado, 25 de outubro de 2025 – 21h40
Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) propõe a criação de uma taxa sobre os super-ricos e de um imposto corporativo global mínimo como formas de arrecadar recursos para compensar as chamadas “dívidas climáticas” — responsabilidades históricas de países e empresas pelas emissões excessivas de gases de efeito estufa.
De acordo com o levantamento, intitulado “Operacionalizando a justiça climática: uma proposta para quantificar e reparar dívidas climáticas”, o pesquisador Rodrigo Fracalossi defende que o princípio de igualdade per capita deve guiar o cálculo da responsabilidade de cada nação. Essa metodologia mede quanto cada país ultrapassou sua cota “justa” de emissões desde 1990.

“A proposta busca transformar o conceito de justiça climática em números concretos, mostrando quem emitiu além do limite que lhe cabia”, explica Fracalossi. “Os dados apontam que várias nações já excederam amplamente seus orçamentos de carbono.”
O estudo recorda que, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o planeta pode liberar até 2,79 trilhões de toneladas de CO₂ para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Até 1989, entretanto, o mundo já havia emitido 1,43 trilhão de toneladas, restando um “saldo” de 1,36 trilhão a partir de 1990.
Com base nesses cálculos, os Estados Unidos aparecem como o maior devedor climático, com uma dívida estimada em US$ 47,9 trilhões, o que representa 326% de seu limite de emissões. O Brasil, por sua vez, teria ultrapassado 168% de sua cota, principalmente devido às emissões provocadas pelo desmatamento.
Para enfrentar esse cenário, o Ipea sugere duas principais medidas de financiamento:
Tributação anual de 2% sobre fortunas de milionários e bilionários, capaz de gerar até US$ 390 bilhões por ano;
Imposto corporativo global mínimo de 15% sobre grandes multinacionais, alinhado às diretrizes da OCDE e do G20, o que acrescentaria cerca de US$ 192 bilhões anuais em receita.
Fracalossi destaca que o financiamento de uma transição climática justa exige maior contribuição de quem mais lucrou com modelos econômicos poluentes.
“A justiça climática pressupõe redistribuição. O mercado, sozinho, não é suficiente — é necessária a ação direta dos governos”, afirma o pesquisador.
Os valores arrecadados, segundo o Ipea, poderiam ser aplicados em iniciativas de mitigação e adaptação, como expansão de energias limpas, reflorestamento, agricultura sustentável e obras de infraestrutura resiliente.







Comentários