Bolsonaro teria acreditado que tornozeleira possuía escuta e tentou violar equipamento, afirmam aliados

Segundo pessoas próximas a Jair Bolsonaro, o ex-presidente passou por um período de forte desconfiança e tensão enquanto utilizava a tornozeleira eletrônica. Aliados relatam que ele chegou a acreditar que o equipamento continha um dispositivo de escuta, capaz de captar conversas pessoais dentro de sua residência, onde cumpria ordem judicial.

Foto: Alan Santos/Arquivo/PR

Esses relatos foram mencionados após a tentativa de Bolsonaro de danificar o aparelho usando um ferro de solda — ação que foi incluída nas justificativas da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF) para decretar sua prisão preventiva no sábado (22), após o episódio.

Interlocutores relatam que Bolsonaro comentava com visitantes a suspeita de que a tornozeleira permitiria que autoridades ou terceiros monitorassem verbalmente o que acontecia em sua casa. Pessoas próximas acreditam que essa percepção teria sido influenciada por ansiedade, preocupação com o andamento das investigações e medo crescente de ser preso.

Desde que deixou a Presidência, Bolsonaro vinha sendo auxiliado por equipes e assessores para questões cotidianas. Com limitações impostas pela Justiça e menos apoio ao redor, ele teria passado a lidar sozinho até com rotinas simples, incluindo a organização de seus próprios remédios — situação que, segundo aliados, contribuiu para seu estado emocional instável.

A violação do equipamento ocorreu pouco depois da meia-noite de sábado. O dano disparou um alerta no sistema de monitoramento e levou uma funcionária da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal até a casa do ex-presidente.

Inicialmente, Bolsonaro afirmou que o equipamento havia sido atingido acidentalmente ao bater em uma escada. No entanto, a inspeção técnica apontou marcas incompatíveis com o relato.

Em registro em vídeo, Bolsonaro admitiu ter usado um ferro de solda para tentar manipular o dispositivo. Ele relatou: “Usei ferro quente… curiosidade”. Questionado sobre o tipo de equipamento, respondeu: “Ferro de soldar, solda”.

Após avaliação, a tornozeleira foi substituída. Horas depois, já na manhã de sábado, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva do ex-presidente, que foi transferido para uma cela especial da Polícia Federal.