PF colhe depoimentos sobre crise do Banco Master sob tensão e com presença do Banco Central
- Adilson Silva

- há 12 minutos
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A Polícia Federal ouve na tarde desta terça-feira (30) personagens centrais da investigação que apura a crise envolvendo o Banco Master, em um ambiente marcado por questionamentos jurídicos e desconfiança do mercado. Estão previstos os depoimentos do controlador da instituição, Daniel Vorcaro, do ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e do diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino.
As oitivas ocorrerão presencialmente no STF ou por videoconferência e contarão com o acompanhamento de um representante do Ministério Público e de um juiz auxiliar do gabinete do ministro Dias Toffoli. Inicialmente, Toffoli havia determinado uma acareação direta entre os três, mas recuou e autorizou que a delegada Janaína Palazzo colha primeiro os depoimentos individuais, deixando a confrontação de versões para um momento posterior, se houver necessidade. Palazzo foi responsável pelo pedido de prisão de Vorcaro em 17 de novembro.

Monitorado por tornozeleira eletrônica, Vorcaro deve comparecer pessoalmente, assim como Costa. Ambos figuram como investigados. Já o representante do Banco Central não é alvo da apuração. As declarações, previstas para começar às 14h, devem se concentrar na tentativa de venda do Banco Master.
A decisão inicial de marcar uma acareação no penúltimo dia do ano —sem solicitação da PF e sob críticas da PGR— gerou reações de juristas e preocupação em instituições financeiras. Em processos penais, a acareação costuma ser usada para sanar contradições objetivas após depoimentos individuais, o que não havia ocorrido neste caso. Toffoli, contudo, sustentou que já existiriam informações divergentes nos autos.
Segundo interlocutores do ministro, a intenção seria esclarecer diferenças entre a posição de Vorcaro, interessado na venda do banco; a do BRB, que negociava a compra mesmo diante de dúvidas sobre a sustentabilidade do negócio; e a atuação do Banco Central, responsável pela fiscalização do sistema financeiro. Também estariam em análise a conduta da cúpula do BRB diante de alertas e indícios de irregularidades e as medidas adotadas pelo BC na supervisão do mercado de títulos bancários.
As defesas rechaçam irregularidades. O advogado de Vorcaro, Sérgio Leonardo, afirmou que o depoimento —e eventual acareação— será uma oportunidade para esclarecer os fatos e demonstrar a inexistência de fraude. Já Cleber Lopes, defensor de Costa, disse que o BRB atuou dentro das práticas de mercado e não cometeu ilegalidades.
O Banco Central questionou formalmente a urgência da audiência e solicitou esclarecimentos sobre a condição processual de seu diretor —se como testemunha, acusado ou pessoa ofendida. Em despacho, Toffoli afirmou que nem o BC nem Aquino são investigados, mas justificou a celeridade pelo impacto do caso no mercado financeiro nacional, destacando a relevância da participação do regulador para o esclarecimento dos fatos.
A PGR também pediu a suspensão da acareação por considerá-la prematura, argumento rejeitado por Toffoli. Em nota conjunta, entidades do setor financeiro defenderam o Banco Central e ressaltaram que a independência técnica do regulador é pilar para a solidez do sistema. O texto foi assinado por Febraban, ABBC, Acrefi e Zetta. Posteriormente, a ABDE reforçou o apoio, afirmando que a autonomia do BC é indispensável para a estabilidade e a confiança no sistema financeiro.
O processo tramita sob sigilo. Desde o início de dezembro, diligências relacionadas à investigação do Master e de Vorcaro dependem de autorização de Toffoli. As apurações indicam que, antes mesmo da formalização da venda, o banco teria forjado e negociado cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito consignado com o BRB, somando contratos falsos e valores adicionais atribuídos como prêmios.
O caso culminou na liquidação do Banco Master em 18 de novembro e na prisão de Vorcaro por 12 dias. Ele segue em liberdade monitorada. A rapidez na convocação de audiência com representante do BC também levantou apreensão sobre os rumos das investigações conduzidas sob a relatoria de Toffoli.
Pouco antes do Natal, oficiais de Justiça estiveram na sede do Master, em São Paulo, à procura do liquidante Eduardo Félix Bianchini, servidor aposentado do BC indicado pelo próprio regulador para conduzir a liquidação. Ele não estava no local por estar fora da cidade. A assessoria do ministro negou que a iniciativa de enviar os oficiais tenha partido de seu gabinete.







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